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Foto do escritorAlessandro Jucá

O fim das manhãs

Atualizado: 22 de set. de 2020


Há três intermináveis anos que não vejo as manhãs e pra ser bem sincero, não me importo tanto. Comumente durante às seis primeiras horas após o nascer do sol me encontro em um estado de sonho com roteiros dinâmicos e mutáveis como minha vida.

Sim, eu poderia afirmar que minha vida é como um sonho, mas não o de sentido poético e sim os de sequências involuntárias que oscilam entre marasmos, euforias, epifanias e absurdos. Por vezes me sinto como um mero ator à mercê de incontáveis filmes dirigidos por diretores que se revesam em escalas intermináveis e aleatórias, cuja a trajetória das tramas além de não compatíveis mudam como o humor de um bipolar. O fim? Quem sabe? Talvez, como as manhãs, não o verei jamais.

Às onze da manhã meu corpo dói e o que até então era cômodo, transforma-se em tortura e no exato momento inicia-se uma luta interior entre meus vícios e demônios contra minhas virtudes e bom senso, este último, o pouco que ainda me sobra. Levanto-me, meio que forçado pelo próprio corpo exigindo um movimento para alívio das dores físicas enquanto que acordam junto comigo as dores da alma.

Os demônios interiores, já em estado de euforia e alerta, borbulham dentro de mim como um antiácido de efeito inverso estimulando minha gastrite e me oferecendo como alimento, no meu então começo de dia, um copo de café preto com um pedaço de pão apenas e o pior, nesse jogo polarizado me dou por satisfeito e ainda agradeço poder não sentir fome já que não me foi dado esse direito por ter nascido hipoglicêmico. Muito raramente, apesar de apreciar, molho o pão seco no café, como se inconscientemente eu não merecesse me ofertar esse prazer logo cedo, pois as únicas sensações de prazer que me permito são às que me consomem aos poucos. Ponho um pedaço de pão na boca, mastigo um pouco pra sentir o sabor meio rude da massa e na sequência um gole de café forte, mais doce do que prefiro, creio ser uma escolha como tantas outras inconscientes em busca de autotortura. Tão logo termino, trato de lavar a boca com sabonete para não continuar sentindo o cheiro de café, devido ao TOC e bebo um copo de água gelada, quando então percebo o relógio marcar uma hora da tarde.




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